O PANEMA INDÍGENA ou Panemice.
"O panema não tem cura medicinal, os médicos do norte, das cidades ribeirinhas, quando diagnóstica que a pessoa está com o panema, os mandam para um rezador pois não sabem como reverter aquela situação (Marcelo Galvão, 2015).
Essa força mágica capaz de infectar humanos, animais, ou objetos é como se fosse uma má sorte que causa incapacidade de ação.
ex:
-Um caçador, ou pescador, cujo repetido insucesso não dá margem a atribuí-lo a causas consideradas naturais, isto é, à estação do ano, influência desse ou daquele fator explicável pelo conhecimento adequado do ambiente, acredita que ele próprio ou um dos instrumentos de que se utiliza, a linha, o anzol, a carabina, estejam empanemados. Por um processo diagnóstico de tentativas acaba por determinar qual o objeto está localizada a panema. A sensação, a intensidade da panema somente o caboclo é capaz de exprimir. O efeito é geralmente descrito como uma incapacidade temporária cujas causas não encontram apoio em circunstâncias consideradas naturais. Diagnóstica-se mais facilmente pelo repetido insucesso comparado à sua experiência anterior ou aos bons resultados dos companheiros. A panema mais simples é suscetível de abandonar o objeto contaminado com a passagem do tempo, desfaz-se com o próprio tempo.
E como adquirimos o panema?
Pelo ato de uma mulher grávida se alimentar da caça ou da pesca.
Desconfiança, gula, inveja podem levar o indivíduo a recorrer à feitiçaria para empanemar o desafeto. quando a Panema é adquirida por meio de feitiço, o individuo tende a definhar até a morte, essa é uma das piores formas de panema.
Isso porque as mulheres grávidas tem uma capacidade de infeccionar alguém, embora essa consequência não seja uma vontade dela.
Desconfiança, ou mal-estar entre dois companheiros, provocada pelo maior sucesso de um deles na caça ou na pesca, pode empanemar o indivíduo invejado. Desconfiança, gula, inveja podem levar o indivíduo a recorrer à feitiçaria para empanemar o desafeto. quando a Panema é adquirida por meio de feitiço, o individuo tende a definhar até a morte, essa é uma das piores formas de panema.
Uma coisa muito importante é que quando a pessoa percebi que está com o panema deve tratar de si ou do objeto, pois o panema afeta igualmente seres vivos e objetos.
Mais ai tem um porém
Se a causa de panema for uma gestante se você realizar o tratamento pode causar males a gestante.
A forma de evitar qualquer deses malefícios é falar com a mulher que acredita ser a fonte, para que ela presida ( assista) ao tratamento. Segundo os indígenas, É preciso cuidado com o tratamento da peça abatida. Lavá-la no igarapé ou mesmo às mãos, de modo a que a água venha a ficar suja de sangue é atrair panema da mãe do igarapé, ou conseqüência pior, ficar assombrado. Os restos da caça devem ser atirados longe das trilhas, pois, se pisados por outrem, também podem atrair panema para o caçador.
Abaixo um trecho de uma entrevista feita no amazonas.
J: Explique para nos também o que é panema.
C: Tá. Esse tratando da panema, né. A panema é a falta de sorte, digamos assim. E ela é muito comum a questão da panema na nossa comunidade. Ela está relacionada ao amor, ela está relacionada à produção também, seja da pesca, seja da caça, seja de qualquer coisa que você adquira para sua vida de bem e você não consegue, você diz que você está panema, né. Tá panema, está sarú. Quando, por exemplo, a mulher está grávida, quando a mulher está grávida o homem já fica sarú, ela já está sarú, já está panema. Porque ela está nos primeiros dias da gravidez e tal, aí já passa toda aquela indisposição e tal. Se você tem o giral no seu quintal onde você bota o produto da sua caça, da sua pesca e for alguém botar uma bacia ali com roupa para lavar, aí já vai ficar panema.
J: E deixe eu entender. Toda vez que a mulher está grávida, o homem automaticamente está panema.
C: Isso. No início. Logo no comecinho da gravidez. Então ele precisa tomar uns banhos para tirar panemeira. Como é que ele vai tirar a panemeira? Aí ele tem que tomar banho da pachuba, a pachuba é uma palmeira nossa das várzeas. Aí faz banho da pachuba e tira panemeira. Ou faz a defumação, né. Trata defumar roupa, defuma pessoa, defuma os apetrecho de pesca e de caça, aí você usa o caroço do uxí, o caroço do piquiá, sabe, a palha da pachuba, aquela, a teia da aranha carangueijeira que fica assim grande, como se fosse uma rede de pesca e começam cair as folhas secas. Então você tira tudo aquilo e faz aquela defumação. E o chifre, chifre do boi ou do veado, qualquer animal, você raspa e coloca aí, a pimenta malagueta. Então essas são assim as pussangas da Amazônia que nós conhecemos, né.
Faz uma pussanga e essa pussanga não é pro mal, é pro bem para que a pessoa fique afortunada, ele possa ir em busca da sua imbiára. A nossa imbiára é a sorte, é a mãe da sorte, é tudo aquilo que a gente consegue pegar no curral, na tarrafa [tipo de rede de pesca], na rede ou no mutá [tipo de giral para esperar a caça], quando a gente está esperando a caça, né, enfim. Então eu acho que essas pussangas da Amazônia e as coisas assim que a gente procura. Sabiamente vêm passando dos nossos ancestrais, né, essas coisas bonitas que devem ser respeitadas e devem ser revalorizadas, devem ser revistas por todo mundo, porque elas têm, sim, a sua importância, elas acabam fazendo efeito.
J: Agora, você sabe porque que o fato da mulher estar grávida, porque que isso traz panema pro homem no início?
C: Não sei, eu acho é porque ficam ali debilitados os dois, né. Deve ter alguma coisa, uma ligação. Eu acho a própria ligação ali daquelas vidas que estão gerando uma outra vida, tem a participação. Uma gravidez quer a participação direta do homem. Sem o homem, a mulher não vai engravidar sozinha. Ela tem e aí, ele deve sentir o efeito ali.
J: Mas não é uma coisa positiva?
C: Com certeza. Bem positiva. Mas aí, ele fica indisposto, né. Pessoa indisposta ali, com preguiça, com aquela coisa toda e aí, ele vai, não consegue fazer um bom trabalho, uma boa coisa, não consegue produzir o suficiente. Aí às vezes, se ele não produzir o suficiente, tudo que ele é capaz de render, né, na hora do seu trabalho, aí ele fica panema. A gente diz ô, não trouxe nem a bóia, né. Passou a noite inteira lá e num pegou nem um litro de camarão, nem um quarto de camarão. Então ele está panema mesmo. Aí não tem outra palavra, não sei, é a panema que contempla. E coloca tudo isso para gente. É por aí. E mais ou menos essa a questão da panema. Então geralmente, para se tirar panema se faz essas pussangas, a defumação, são os banhos, a surra de pião rocho, por exemplo. Você pega aquela planta, pião rocho, e bate na pessoa, assim nas pernas, na costa, em cruz e pega um limão galegos, costa em cruz, bota um punhado de sal, extrema esta pasta todo no corpo e toma bando fora. Não é dentro de casa esse banheiro. Toma lá no quintal. Muda uma roupa limpa e dá uma volta. Vai pelo um caminho, volta pelo outro, não olha para trás, aí tudo isso vai tirando a panemeira, ele vai deixando, ele vem pensando em coisas boas, né, fluindo nos bons pensamentos e aí vem se recuperando, vem melhorando a auto-estima e aí vai melhor pro trabalho.
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